domingo, 31 de dezembro de 2017

Feliz e Próspero Ano Novo - 2018!


Abençoai, ó Deus, o vosso povo que confia em vossa misericórdia, e realizai os desejos que vós mesmo lhe inspirastes. (Missal Romano, 2ª edição típica).




Feliz e Próspero Ano Novo!



Fonte da imagem:
http://www.padremarcelotenorio.com/wp-content/uploads/2012/01/vaticano-ano-novo.png

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz

O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam no país da sombra da morte, uma luz resplandeceu. (Is 9,1)




Conhece-se Jesus a partir dos quatro Evangelhos. Pelo viés simplesmente histórico ("Jesus histórico"), recorre-se principalmente aos Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, chamados sinóticos.

Pondere-se, porém, que Jesus, o Cristo, o Messias, o "Jesus histórico", outro não há senão o dos Evangelhos. A este respeito, depois de fazer indicações metodológicas que distinguem a figura de Jesus no Novo Testamento, Joseph Ratzinger - Bento XVI esclarece:

Para minha representação de Jesus, isto significa, principalmente, que eu confio nos Evangelhos. Naturalmente que se pressupõe tudo o que o Concílio e a moderna exegese nos dizem sobre os gêneros literários, sobre a intenção narrativa, sobre o contexto comunitário dos Evangelhos e o seu falar neste contexto vivo. Então, acolhendo tudo isto - tanto que foi possível -, quis tentar representar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o "Jesus histórico" no sentido autêntico. Estou convencido, e espero que também o leitor possa ver, que esta figura é mais lógica e historicamente considerada mais compreensível do que as reconstruções com as quais fomos confrontados na últimas décadas. Penso que precisamente este Jesus - o dos Evangelhos - é uma figura racional e manifestamente histórica. (Jesus de Nazaré - Primeira Parte - Do Batismo no Jordão à Transfiguração, São Paulo, Planeta, 2007, p. 17)

O estudo dos Evangelhos proporciona, com autoridade, o conhecimento de Jesus. Entretanto, os Evangelhos não são escritos que ficam lá no passado. Ao contrário, são atuais e operantes. Os Evangelhos exercem uma ação atrativa destinando-se a fazer discípulo e a estabelecer uma relação do seu leitor com o Cristo que vive. Ou, nas precisas palavras de Joachim Gnilka:

É evidente que o estudo dos Evangelhos permite conhecer Jesus, tornar-se seu discípulo. Este é o objectivo dos Evangelhos. A sua intenção não é simplesmente evocar acontecimentos históricos, mas estabelecer, em primeiro lugar, uma ligação com o Cristo vivo. É importante que o leitor deste tipo de Evangelho tenha presente que não está diante de material passado, histórico, morto, mas sim com alguém que a pessoa sabe, na fé, que está vivo, que interpela a vida do leitor e que actua na comunidade. (Jesus de Nazaré - Mensagem e história, 1ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1999, p. 312).

Jesus nasceu em dado momento histórico, determinável. O Cardeal Ratzinger, hagiógrafo de Jesus dos Evangelhos, afirma:

Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido "uma vez", típico do mito; mas pertence a um tempo, que pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente. (A infância de Jesus, São Paulo, Planeta, 2012, p. 57)

Pois bem, é no contexto histórico e geográfico indicado no Evangelho de Lucas (Lc 2, 1-14) que Jesus nasceu. E esse Evangelho corresponde ao elenco das leituras da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Calendário Litúrgico: Ano B - São Marcos), celebrada universalmente na noite do dia 24 de dezembro de 2017.

O Papa Francisco inicia a sua homilia na solene celebração da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Basílica de São Pedro, 24 de dezembro de 2017), realçando o duplo papel de Maria no nascimento de Jesus:

«Completaram-se os dias de [Maria] dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). Com esta afirmação simples mas clara, Lucas leva-nos ao coração daquela noite santa: Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz. Uma narração simples para nos entranhar no acontecimento que muda para sempre a nossa história. Tudo, naquela noite, se tornava fonte de esperança.  

A homilia ocupa-se de quatro eixos: luz, esperança, fé e caridade. Repita-se: a homilia papal tem como ponto de partida Maria. A ação de Maria é dupla:

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz.

A Luz com que somos presenteados por intermédio de Maria é o Cristo, Filho de Deus. Essa grande luz que ilumina a escuridão, que dissipa as trevas, remete-nos ao Mistério da Ressurreição, cujo símbolo é o Círio Pascal.


Leia mais:

Audiência Geral - Quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Qual é o sentido da ressurreição de Jesus para um cristão?


Fonte da imagem:
http://www.centroloyola.puc-rio.br/espiritualidade/retiro-o-caminho-da-luz-rumo-ao-coracao-de-deus/

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz e Santo Natal do Senhor !


E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade. (Jo 1, 14)





Feliz e Santo Natal do Senhor!





Fonte da imagem:
http://deniseludwig.blogspot.com.br/2012/12/arte-em-pinturas-nascimento-do-menino.html

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O hábito não faz o monge, e é certo, mas o monge sem o hábito não é tão monge!


!El habito no hace el monje, y es cierto, mas el monje sin el habito no es tan monje!




Antropologicamente, o hábito é um meio de linguagem corporal. Da perspectiva da comunicação, o hábito fala por si mesmo. É uma comunicação muito importante.

A nova edição do Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, datado de  11 de fevereiro de 2013, da Congregação para o Clero, dispõe sobre a importância do hábito eclesiástico nestes termos que reproduzo: 

Importância e obrigatoriedade do hábito eclesiástico

61. Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero – homem de Deus, dispensador dos seus mistérios – seja reconhecível pela comunidade, também pelo hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade de detentor de um ministério público [247]. O presbítero deve ser reconhecido antes de tudo pelo seu comportamento, mas também pelo vestir de maneira a ser imediatamente perceptível por cada fiel, melhor ainda por cada homem [248], a sua identidade e pertença a Deus e à Igreja. 

O hábito talar é sinal exterior de uma realidade interior: «efetivamente, o presbítero já não pertence a si mesmo, mas, pelo selo sacramental por ele recebido (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1563 e 1582), é “propriedade” de Deus. Este seu “ser de Outro” deve tornar-se reconhecível por parte de todos, através de um testemunho límpido. [...] No modo de pensar, falar, julgar os acontecimentos do mundo, servir e amar, e de se relacionar com as pessoas, também no hábito, o presbítero deve haurir força profética da sua pertença sacramental»[249]. 

Por este motivo, o clérigo, bem como o diácono transitório, deve[250]:

a) trazer o hábito talar ou «um hábito eclesiástico decoroso, segundo as normas emanadas pela Conferência Episcopal e segundo os legítimos costumes locais»[251]; isto significa que tal hábito, quando não é o talar, deve ser diverso da maneira de vestir dos leigos e conforme a dignidade e sacralidade do ministério. O feitio e a cor devem ser estabelecidos pela Conferência dos Bispos.

b) Pela sua incoerência com o espírito de tal disciplina, as praxes contrárias não possuem a racionalidade necessária para que se possam tornar costumes legítimos[252] e devem ser removidas pela autoridade eclesiástica competente[253]. 

Salvas situações excepcionais, o não uso do hábito eclesiástico por parte do clérigo pode manifestar uma consciência débil da sua identidade de pastor inteiramente dedicado ao serviço da Igreja[254]. 

Além disso, a veste talar – também pela forma, cor e dignidade – é especialmente oportuna, porque distingue claramente os sacerdotes dos leigos e dá a entender melhor o caráter sagrado do seu ministério, recordando ao próprio presbítero que, sempre e em qualquer momento, é sacerdote, ordenado para servir, para ensinar, para guiar e para santificar as almas, principalmente pela celebração dos sacramentos e pela pregação da Palavra de Deus. Vestir o hábito clerical serve, ademais, para a salvaguarda da pobreza e da castidade.

Nos tempos atuais, inicialmente o hábito apresenta-se como contraponto a uma sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, como a ele se refere o sobredito Diretório.

O Código de Direito Canônico, de 25 de janeiro de 1983, estabelece:

Cân. 284 — Os clérigos usem trajo eclesiástico conveniente, segundo as normas estabelecidas pela Conferência episcopal, e segundo os legítimos costumes dos lugares.

Em Apêndice, a Legislação complementar ao Código de Direito Canônico, texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, regulamentou quanto ao cânone 284:

Usem os clérigos um traje eclesiástico digno e simples, de preferência o "clergyman" ou "batina".

Tanto o cânone quanto o adendo da CNBB são normas imperativas (usem), e não facultativas (podem usar).

No Brasil, o clérigo está sujeito ao uso de traje eclesiástico, preferencialmente o clergyman ou a batina. Em outras palavras, a batina, que também se chama sotaina, ou calça e camisa com colarinho romano (clergyman).

Entretanto, não se pode fazer uma generalização como se tudo que o clérigo ou o religioso usem seja uma só coisa, com única denominação. Nesse sentido, cabem os esclarecimentos de Rafael Vitola Brodbeck, em seu artigo Da obrigatoriedade do uso do traje eclesiástico:

Ao contrário do que muitos pensam, o Vaticano II não aboliu o hábito dos religiosos. “O hábito religioso, sinal que é da consagração, seja simples e modesto, pobre e ao mesmo tempo decente (…).”[18]

Traje eclesiástico, traje clerical, hábito religioso.

Façamos um esclarecimento de alguns termos utilizados. 

Traje eclesiástico é o gênero que engloba as espécies traje clerical e hábito religioso. Entende-se por hábito religioso a veste apropriada prescrita pelas regras e constituições de cada instituto. Assim, há o hábito dos carmelitas, dos franciscanos, dos beneditinos, dos cistercienses, dos redentoristas, dos capuchinhos, dos agostinianos, dos maristas, dos lassalistas etc., um diferente do outro, justamente pela simbologia e espiritualidade próprias. Por sua vez, o traje clerical é o utilizado pelos clérigos seculares (e seminaristas seculares também) e pelos religiosos que não possuem hábito próprio (como os jesuítas, os salesianos e os legionários de Cristo, por exemplo). 

A forma do hábito depende de cada instituto, e o traje clerical pode ser batina – também chamada sotaina – ou calça e camisa com colarinho romano – clergyman. 

Não podemos confundir, ademais, o traje eclesiástico com os paramentos litúrgicos, utilizados na celebração da Santa Missa, do Ofício Divino e dos diversos sacramentos e sacramentais, nem com a veste talar ou coral a ser usada pelos religiosos e clérigos no coro ou quando assistem as cerimônias litúrgicas sem celebrá-las.

 [18] Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Perfectae Caritatis, de 28 de outubro de 1965, 17


O traje clerical possibilita o reconhecimento desde logo que tal e qual pessoa tem sua pertença a Deus e à Igreja. O hábito o identifica, não o deixa no anonimato.

Richard M. Gula, S.S., em sua obra Ética no Ministério Pastoral (Edições Loyola, 2ª ed., 2001, pp. 84 e 89), ao falar sobre o uso responsável do poder no relacionamento pastoral, diz que até a maneira de se vestir pode ter influência. Dele estas palavras:

Até a nossa maneira de se vestir pode ter influência. Vestir-se formalmente ou não pode ampliar ou reduzir o poder que temos sobre os outros.
(...)
A diferença está em trazermos "alguma coisa mais" ao ministério além de nós próprios. (...)
Por sermos representantes de Quem dá sentido e objetivo à vida, há o "peso do sagrado" que acrescenta mais seriedade ao que dizemos e fazemos.

Além do universo clerical ou de profissão religiosa, pode-se acrescentar que, para as profissões laicas, o vestir-se formalmente está muito ligado à liturgia do cargo ou da função. 

O hábito não faz o monge, e é certo, mas o monge sem o hábito não é tão monge!


Leia mais:

História do Hábito Eclesiástico desde suas origens até o Concílio de Trento, por Dom Marcello Stanzione

?Por qué los sacerdotes llevan clergyman o sotana?

El hábito hace al monje, por Antonio Esquivias

Colarinho Romano e clergyman: diferenças

O uso do cabeção, por Edson Sampel

Sim, o hábito faz o monge, mostra pesquisa


Fonte da primeira imagem:
https://pluralesingulares.files.wordpress.com/2011/11/images-monges-e1321574308721.jpg

Fonte da segunda imagem:
https://pt.zenit.org/articles/o-uso-do-cabecao/

sábado, 9 de dezembro de 2017

A formacão litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação


"A verdadeira educação litúrgica não pode consistir em aprender e ensaiar atividades exteriores, mas sim em conduzir para a verdadeira actio, que faz da Liturgia o que ela é: conduzir para o poder transformador de Deus, o qual, através do acontecimento litúrgico, queria transformar os Homens e o Mundo. Neste ponto, a actual educação litúrgica tanto dos sacerdotes como dos leigos, encontra-se num estado deficitário preocupante - aqui há muito por fazer."
(Joseph Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, 2ª edição, 2006, Lisboa, Paulinas, p. 130)




Na Audiência Geral de Quarta-feira (dia 8 de novembro de 2017), o Papa Francisco iniciou nova série de catequeses; catequeses determinadas à formação litúrgica dos fiéis, no âmbito da Eucaristia.

É do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) que se segue tal comprometimento, uma vez que ele 

Julga, por isso, dever também interessar-se de modo particular pela reforma e incremento da Liturgia. (n. 1),

Isso é o que se lê, logo de início, na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia (SC. n. 1), que foi o primeiro dos documentos do Concílio Vaticano II, aprovado pelo beato Paulo VI em 4 de dezembro de 1963.

Da Liturgia, como que de um rio de água viva [Ap 22, 1] corre para nós e sobre nós a graça, por meio da qual, conseguimos a santificação em Cristo e a glorificação de Deus.

Para que isso aconteça é necessária a sinergia (do grego: syn - junto + ergon - trabalho), ou a ação conjunta. "Este termo clássico entre os Padres, procura traduzir a novidade da união de Deus e do homem em Cristo, ou melhor, da energia do Espírito Santo que penetra interiormente a energia do homem e o identifica com Cristo. Todo o realismo da liturgia e da divinização está nesta sinergia" (Jean Corbon, A Fonte da Liturgia, Lisboa, Paulinas, p. 11), de modo que, acercando-se da Sagrada Liturgia com disposições de reta intenção,

unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus, não aconteça de a receberem em vão (28) [SC, n. 11]
 
Entretanto, para se chegar eficazmente a tudo isso, é conditio sine qua non (condição sem qual não) a participação plena, consciente e ativa. Por isso que

Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo porque ela é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação. [SC, n. 14]

Em tantas mais passagens da referida Sacrosanctum Concilium (SC) fala-se dessa virtuosa participação, necessária para render os frutos da santificação e da glorificação.

Considerada como o exercício da função sacerdotal de Cristo [SC, n. 7], a Liturgia é ação essencialmente sagrada (SC, n. 7) e

contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo (4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor (7). [SC, n. 2]

A Sacrosanctum Concilium declara que a finalidade do Concílio, em propondo o fomento da vida cristã entre os fiéis, a adaptação do que é suscetível de mudança às necessidades deste tempo, a promoção do que possa contribuir para união dos que creem no Cristo e o fortalecimento do que possa ajudar ao chamamento de todos ao seio da Igreja, deságua, como já visto, na reforma e incremento da Liturgia (SC, n. 1).

Daí se vê a importância substancial da Liturgia. Liturgia esta que se crê (mistério acreditado), que se celebra (mistério celebrado) e que se vive (mistério vivido).

Em sua Introdução (Proêmio), a Sacrosanctum Concilium sintetiza aspectos da reforma e incremento  litúrgico, entre outros, o caráter sagrado da Liturgia, a santificação em Cristo, a glorificação de Deus, a ordenação e subordinação do humano ao divino, a participação plena, consciente e ativa, a ação de exprimir na vida e de manifestar aos outros o que se celebra (SC, n. 2). 

A reforma litúrgica deve, sem descuidar de outros princípios ou aspectos, assumir, como objetivo fundamental a boa catequese sobre a participação plena, consciente e ativa dos fiéis na celebração, como quer o Concílio Vaticano II, que, por sua vez, frutuosa e piedosa, conduz à renovação litúrgica. A renovação litúrgica "consiste em deixar-se penetrar totalmente do espírito que inspirou a revisão dos ritos e textos. Em outras palavras, levar o povo até o coração da liturgia para que viva em profundidade  o que celebra e celebre autenticamente o que vive" (Julián López Martín, No Espírito e na Verdade, vol. II, Petrópolis, Vozes, pp. 302-303).

Realizada, pois, a reforma dos ritos e textos litúrgicos, procura-se, com a ênfase da atual série das catequeses do Papa Francisco, dinamizar a concretização da renovação litúrgica, que, como recorda o Pontífice, passa pela formação litúrgica:

Um tema central que os Padres conciliares frisaram foi a formação litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação. E é precisamente esta também a finalidade deste ciclo de catequeses que hoje iniciamos: crescer no conhecimento do grande dom que Deus nos concedeu na Eucaristia. [Audiência Geral de Quarta-feira, 8/11/2017]

As catequeses do Papa Francisco sobre a formação litúrgica (quartas-feiras do ano de 2017) podem ser acompanhadas e acessadas aqui.

Por oportuno, as palavras de Bento XVI, em conversa com Peter Seewald, respondendo à pergunta sobre empobrecimento e abusos na liturgia:

"No plano institucional e jurídico não se pode fazer muita coisa. Importante é que exista uma visão interna desse fato, que as pessoas aprendam o que é a liturgia a partir de dentro, o que ela realmente significa, vivenciando-a. Exatamente por isso escrevi alguns livros sobre este tema. Infelizmente ainda existem esses posicionamentos estreitos de certos grupos de supostos especialistas, que absolutizam suas próprias teorias e não enxergam o que é essencial. Não é o caso de permitir toda espécie de manipulação pessoal, mas de que a liturgia tem significado em si mesma e se celebra a partir de dentro. Mas isso é algo que não se pode comandar." (Peter Seewald, Bento VI - O Último Testamento, Planeta, p. 239).

Por fim, Joachim Gnilka, respondendo a uma das perguntas da Entrevista (Jesus, o Cristo), em apêndice ao seu livro, sobre o fato de Jesus reunir em torno de si um grupo de discípulos, mas registrando que as autênticas reformas (e isso é pertinente aqui) fazem o caminho de retorno às fontes, afirma:

"De facto, as verdadeiras reformas na Igreja realizaram-se sempre como um regresso às origens. E a ideia de discipulado, de ser discente de Jesus, na minha  opinião,  é muito importante." (Jesus de Nazaré, Lisboa, Presença, p. 308)


Leia mais:

Papa Francisco: la riforma della da liturgia
Fonte da imagem:
http://revista.olutador.org.br/formacao-liturgica-formar-para-que/