domingo, 31 de dezembro de 2017

Feliz e Próspero Ano Novo - 2018!


Abençoai, ó Deus, o vosso povo que confia em vossa misericórdia, e realizai os desejos que vós mesmo lhe inspirastes. (Missal Romano, 2ª edição típica).




Feliz e Próspero Ano Novo!



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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz

O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam no país da sombra da morte, uma luz resplandeceu. (Is 9,1)




Conhece-se Jesus a partir dos quatro Evangelhos. Pelo viés simplesmente histórico ("Jesus histórico"), recorre-se principalmente aos Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, chamados sinóticos.

Pondere-se, porém, que Jesus, o Cristo, o Messias, o "Jesus histórico", outro não há senão o dos Evangelhos. A este respeito, depois de fazer indicações metodológicas que distinguem a figura de Jesus no Novo Testamento, Joseph Ratzinger - Bento XVI esclarece:

Para minha representação de Jesus, isto significa, principalmente, que eu confio nos Evangelhos. Naturalmente que se pressupõe tudo o que o Concílio e a moderna exegese nos dizem sobre os gêneros literários, sobre a intenção narrativa, sobre o contexto comunitário dos Evangelhos e o seu falar neste contexto vivo. Então, acolhendo tudo isto - tanto que foi possível -, quis tentar representar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o "Jesus histórico" no sentido autêntico. Estou convencido, e espero que também o leitor possa ver, que esta figura é mais lógica e historicamente considerada mais compreensível do que as reconstruções com as quais fomos confrontados na últimas décadas. Penso que precisamente este Jesus - o dos Evangelhos - é uma figura racional e manifestamente histórica. (Jesus de Nazaré - Primeira Parte - Do Batismo no Jordão à Transfiguração, São Paulo, Planeta, 2007, p. 17)

O estudo dos Evangelhos proporciona, com autoridade, o conhecimento de Jesus. Entretanto, os Evangelhos não são escritos que ficam lá no passado. Ao contrário, são atuais e operantes. Os Evangelhos exercem uma ação atrativa destinando-se a fazer discípulo e a estabelecer uma relação do seu leitor com o Cristo que vive. Ou, nas precisas palavras de Joachim Gnilka:

É evidente que o estudo dos Evangelhos permite conhecer Jesus, tornar-se seu discípulo. Este é o objectivo dos Evangelhos. A sua intenção não é simplesmente evocar acontecimentos históricos, mas estabelecer, em primeiro lugar, uma ligação com o Cristo vivo. É importante que o leitor deste tipo de Evangelho tenha presente que não está diante de material passado, histórico, morto, mas sim com alguém que a pessoa sabe, na fé, que está vivo, que interpela a vida do leitor e que actua na comunidade. (Jesus de Nazaré - Mensagem e história, 1ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1999, p. 312).

Jesus nasceu em dado momento histórico, determinável. O Cardeal Ratzinger, hagiógrafo de Jesus dos Evangelhos, afirma:

Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido "uma vez", típico do mito; mas pertence a um tempo, que pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente. (A infância de Jesus, São Paulo, Planeta, 2012, p. 57)

Pois bem, é no contexto histórico e geográfico indicado no Evangelho de Lucas (Lc 2, 1-14) que Jesus nasceu. E esse Evangelho corresponde ao elenco das leituras da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Calendário Litúrgico: Ano B - São Marcos), celebrada universalmente na noite do dia 24 de dezembro de 2017.

O Papa Francisco inicia a sua homilia na solene celebração da Santa Missa na Noite do Natal do Senhor (Basílica de São Pedro, 24 de dezembro de 2017), realçando o duplo papel de Maria no nascimento de Jesus:

«Completaram-se os dias de [Maria] dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 6-7). Com esta afirmação simples mas clara, Lucas leva-nos ao coração daquela noite santa: Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz. Uma narração simples para nos entranhar no acontecimento que muda para sempre a nossa história. Tudo, naquela noite, se tornava fonte de esperança.  

A homilia ocupa-se de quatro eixos: luz, esperança, fé e caridade. Repita-se: a homilia papal tem como ponto de partida Maria. A ação de Maria é dupla:

Maria deu à luz, Maria deu-nos a Luz.

A Luz com que somos presenteados por intermédio de Maria é o Cristo, Filho de Deus. Essa grande luz que ilumina a escuridão, que dissipa as trevas, remete-nos ao Mistério da Ressurreição, cujo símbolo é o Círio Pascal.


Leia mais:

Audiência Geral - Quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Qual é o sentido da ressurreição de Jesus para um cristão?


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http://www.centroloyola.puc-rio.br/espiritualidade/retiro-o-caminho-da-luz-rumo-ao-coracao-de-deus/

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz e Santo Natal do Senhor !


E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade. (Jo 1, 14)





Feliz e Santo Natal do Senhor!





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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O hábito não faz o monge, e é certo, mas o monge sem o hábito não é tão monge!


!El habito no hace el monje, y es cierto, mas el monje sin el habito no es tan monje!




Antropologicamente, o hábito é um meio de linguagem corporal. Da perspectiva da comunicação, o hábito fala por si mesmo. É uma comunicação muito importante.

A nova edição do Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, datado de  11 de fevereiro de 2013, da Congregação para o Clero, dispõe sobre a importância do hábito eclesiástico nestes termos que reproduzo: 

Importância e obrigatoriedade do hábito eclesiástico

61. Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero – homem de Deus, dispensador dos seus mistérios – seja reconhecível pela comunidade, também pelo hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade de detentor de um ministério público [247]. O presbítero deve ser reconhecido antes de tudo pelo seu comportamento, mas também pelo vestir de maneira a ser imediatamente perceptível por cada fiel, melhor ainda por cada homem [248], a sua identidade e pertença a Deus e à Igreja. 

O hábito talar é sinal exterior de uma realidade interior: «efetivamente, o presbítero já não pertence a si mesmo, mas, pelo selo sacramental por ele recebido (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1563 e 1582), é “propriedade” de Deus. Este seu “ser de Outro” deve tornar-se reconhecível por parte de todos, através de um testemunho límpido. [...] No modo de pensar, falar, julgar os acontecimentos do mundo, servir e amar, e de se relacionar com as pessoas, também no hábito, o presbítero deve haurir força profética da sua pertença sacramental»[249]. 

Por este motivo, o clérigo, bem como o diácono transitório, deve[250]:

a) trazer o hábito talar ou «um hábito eclesiástico decoroso, segundo as normas emanadas pela Conferência Episcopal e segundo os legítimos costumes locais»[251]; isto significa que tal hábito, quando não é o talar, deve ser diverso da maneira de vestir dos leigos e conforme a dignidade e sacralidade do ministério. O feitio e a cor devem ser estabelecidos pela Conferência dos Bispos.

b) Pela sua incoerência com o espírito de tal disciplina, as praxes contrárias não possuem a racionalidade necessária para que se possam tornar costumes legítimos[252] e devem ser removidas pela autoridade eclesiástica competente[253]. 

Salvas situações excepcionais, o não uso do hábito eclesiástico por parte do clérigo pode manifestar uma consciência débil da sua identidade de pastor inteiramente dedicado ao serviço da Igreja[254]. 

Além disso, a veste talar – também pela forma, cor e dignidade – é especialmente oportuna, porque distingue claramente os sacerdotes dos leigos e dá a entender melhor o caráter sagrado do seu ministério, recordando ao próprio presbítero que, sempre e em qualquer momento, é sacerdote, ordenado para servir, para ensinar, para guiar e para santificar as almas, principalmente pela celebração dos sacramentos e pela pregação da Palavra de Deus. Vestir o hábito clerical serve, ademais, para a salvaguarda da pobreza e da castidade.

Nos tempos atuais, inicialmente o hábito apresenta-se como contraponto a uma sociedade secularizada e de tendência materialista, em que também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, como a ele se refere o sobredito Diretório.

O Código de Direito Canônico, de 25 de janeiro de 1983, estabelece:

Cân. 284 — Os clérigos usem trajo eclesiástico conveniente, segundo as normas estabelecidas pela Conferência episcopal, e segundo os legítimos costumes dos lugares.

Em Apêndice, a Legislação complementar ao Código de Direito Canônico, texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, regulamentou quanto ao cânone 284:

Usem os clérigos um traje eclesiástico digno e simples, de preferência o "clergyman" ou "batina".

Tanto o cânone quanto o adendo da CNBB são normas imperativas (usem), e não facultativas (podem usar).

No Brasil, o clérigo está sujeito ao uso de traje eclesiástico, preferencialmente o clergyman ou a batina. Em outras palavras, a batina, que também se chama sotaina, ou calça e camisa com colarinho romano (clergyman).

Entretanto, não se pode fazer uma generalização como se tudo que o clérigo ou o religioso usem seja uma só coisa, com única denominação. Nesse sentido, cabem os esclarecimentos de Rafael Vitola Brodbeck, em seu artigo Da obrigatoriedade do uso do traje eclesiástico:

Ao contrário do que muitos pensam, o Vaticano II não aboliu o hábito dos religiosos. “O hábito religioso, sinal que é da consagração, seja simples e modesto, pobre e ao mesmo tempo decente (…).”[18]

Traje eclesiástico, traje clerical, hábito religioso.

Façamos um esclarecimento de alguns termos utilizados. 

Traje eclesiástico é o gênero que engloba as espécies traje clerical e hábito religioso. Entende-se por hábito religioso a veste apropriada prescrita pelas regras e constituições de cada instituto. Assim, há o hábito dos carmelitas, dos franciscanos, dos beneditinos, dos cistercienses, dos redentoristas, dos capuchinhos, dos agostinianos, dos maristas, dos lassalistas etc., um diferente do outro, justamente pela simbologia e espiritualidade próprias. Por sua vez, o traje clerical é o utilizado pelos clérigos seculares (e seminaristas seculares também) e pelos religiosos que não possuem hábito próprio (como os jesuítas, os salesianos e os legionários de Cristo, por exemplo). 

A forma do hábito depende de cada instituto, e o traje clerical pode ser batina – também chamada sotaina – ou calça e camisa com colarinho romano – clergyman. 

Não podemos confundir, ademais, o traje eclesiástico com os paramentos litúrgicos, utilizados na celebração da Santa Missa, do Ofício Divino e dos diversos sacramentos e sacramentais, nem com a veste talar ou coral a ser usada pelos religiosos e clérigos no coro ou quando assistem as cerimônias litúrgicas sem celebrá-las.

 [18] Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Perfectae Caritatis, de 28 de outubro de 1965, 17


O traje clerical possibilita o reconhecimento desde logo que tal e qual pessoa tem sua pertença a Deus e à Igreja. O hábito o identifica, não o deixa no anonimato.

Richard M. Gula, S.S., em sua obra Ética no Ministério Pastoral (Edições Loyola, 2ª ed., 2001, pp. 84 e 89), ao falar sobre o uso responsável do poder no relacionamento pastoral, diz que até a maneira de se vestir pode ter influência. Dele estas palavras:

Até a nossa maneira de se vestir pode ter influência. Vestir-se formalmente ou não pode ampliar ou reduzir o poder que temos sobre os outros.
(...)
A diferença está em trazermos "alguma coisa mais" ao ministério além de nós próprios. (...)
Por sermos representantes de Quem dá sentido e objetivo à vida, há o "peso do sagrado" que acrescenta mais seriedade ao que dizemos e fazemos.

Além do universo clerical ou de profissão religiosa, pode-se acrescentar que, para as profissões laicas, o vestir-se formalmente está muito ligado à liturgia do cargo ou da função. 

O hábito não faz o monge, e é certo, mas o monge sem o hábito não é tão monge!


Leia mais:

História do Hábito Eclesiástico desde suas origens até o Concílio de Trento, por Dom Marcello Stanzione

?Por qué los sacerdotes llevan clergyman o sotana?

El hábito hace al monje, por Antonio Esquivias

Colarinho Romano e clergyman: diferenças

O uso do cabeção, por Edson Sampel

Sim, o hábito faz o monge, mostra pesquisa


Fonte da primeira imagem:
https://pluralesingulares.files.wordpress.com/2011/11/images-monges-e1321574308721.jpg

Fonte da segunda imagem:
https://pt.zenit.org/articles/o-uso-do-cabecao/

sábado, 9 de dezembro de 2017

A formacão litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação


"A verdadeira educação litúrgica não pode consistir em aprender e ensaiar atividades exteriores, mas sim em conduzir para a verdadeira actio, que faz da Liturgia o que ela é: conduzir para o poder transformador de Deus, o qual, através do acontecimento litúrgico, queria transformar os Homens e o Mundo. Neste ponto, a actual educação litúrgica tanto dos sacerdotes como dos leigos, encontra-se num estado deficitário preocupante - aqui há muito por fazer."
(Joseph Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, 2ª edição, 2006, Lisboa, Paulinas, p. 130)




Na Audiência Geral de Quarta-feira (dia 8 de novembro de 2017), o Papa Francisco iniciou nova série de catequeses; catequeses determinadas à formação litúrgica dos fiéis, no âmbito da Eucaristia.

É do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) que se segue tal comprometimento, uma vez que ele 

Julga, por isso, dever também interessar-se de modo particular pela reforma e incremento da Liturgia. (n. 1),

Isso é o que se lê, logo de início, na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia (SC. n. 1), que foi o primeiro dos documentos do Concílio Vaticano II, aprovado pelo beato Paulo VI em 4 de dezembro de 1963.

Da Liturgia, como que de um rio de água viva [Ap 22, 1] corre para nós e sobre nós a graça, por meio da qual, conseguimos a santificação em Cristo e a glorificação de Deus.

Para que isso aconteça é necessária a sinergia (do grego: syn - junto + ergon - trabalho), ou a ação conjunta. "Este termo clássico entre os Padres, procura traduzir a novidade da união de Deus e do homem em Cristo, ou melhor, da energia do Espírito Santo que penetra interiormente a energia do homem e o identifica com Cristo. Todo o realismo da liturgia e da divinização está nesta sinergia" (Jean Corbon, A Fonte da Liturgia, Lisboa, Paulinas, p. 11), de modo que, acercando-se da Sagrada Liturgia com disposições de reta intenção,

unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus, não aconteça de a receberem em vão (28) [SC, n. 11]
 
Entretanto, para se chegar eficazmente a tudo isso, é conditio sine qua non (condição sem qual não) a participação plena, consciente e ativa. Por isso que

Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo porque ela é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação. [SC, n. 14]

Em tantas mais passagens da referida Sacrosanctum Concilium (SC) fala-se dessa virtuosa participação, necessária para render os frutos da santificação e da glorificação.

Considerada como o exercício da função sacerdotal de Cristo [SC, n. 7], a Liturgia é ação essencialmente sagrada (SC, n. 7) e

contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo (4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor (7). [SC, n. 2]

A Sacrosanctum Concilium declara que a finalidade do Concílio, em propondo o fomento da vida cristã entre os fiéis, a adaptação do que é suscetível de mudança às necessidades deste tempo, a promoção do que possa contribuir para união dos que creem no Cristo e o fortalecimento do que possa ajudar ao chamamento de todos ao seio da Igreja, deságua, como já visto, na reforma e incremento da Liturgia (SC, n. 1).

Daí se vê a importância substancial da Liturgia. Liturgia esta que se crê (mistério acreditado), que se celebra (mistério celebrado) e que se vive (mistério vivido).

Em sua Introdução (Proêmio), a Sacrosanctum Concilium sintetiza aspectos da reforma e incremento  litúrgico, entre outros, o caráter sagrado da Liturgia, a santificação em Cristo, a glorificação de Deus, a ordenação e subordinação do humano ao divino, a participação plena, consciente e ativa, a ação de exprimir na vida e de manifestar aos outros o que se celebra (SC, n. 2). 

A reforma litúrgica deve, sem descuidar de outros princípios ou aspectos, assumir, como objetivo fundamental a boa catequese sobre a participação plena, consciente e ativa dos fiéis na celebração, como quer o Concílio Vaticano II, que, por sua vez, frutuosa e piedosa, conduz à renovação litúrgica. A renovação litúrgica "consiste em deixar-se penetrar totalmente do espírito que inspirou a revisão dos ritos e textos. Em outras palavras, levar o povo até o coração da liturgia para que viva em profundidade  o que celebra e celebre autenticamente o que vive" (Julián López Martín, No Espírito e na Verdade, vol. II, Petrópolis, Vozes, pp. 302-303).

Realizada, pois, a reforma dos ritos e textos litúrgicos, procura-se, com a ênfase da atual série das catequeses do Papa Francisco, dinamizar a concretização da renovação litúrgica, que, como recorda o Pontífice, passa pela formação litúrgica:

Um tema central que os Padres conciliares frisaram foi a formação litúrgica dos fiéis, indispensável para uma verdadeira renovação. E é precisamente esta também a finalidade deste ciclo de catequeses que hoje iniciamos: crescer no conhecimento do grande dom que Deus nos concedeu na Eucaristia. [Audiência Geral de Quarta-feira, 8/11/2017]

As catequeses do Papa Francisco sobre a formação litúrgica (quartas-feiras do ano de 2017) podem ser acompanhadas e acessadas aqui.

Por oportuno, as palavras de Bento XVI, em conversa com Peter Seewald, respondendo à pergunta sobre empobrecimento e abusos na liturgia:

"No plano institucional e jurídico não se pode fazer muita coisa. Importante é que exista uma visão interna desse fato, que as pessoas aprendam o que é a liturgia a partir de dentro, o que ela realmente significa, vivenciando-a. Exatamente por isso escrevi alguns livros sobre este tema. Infelizmente ainda existem esses posicionamentos estreitos de certos grupos de supostos especialistas, que absolutizam suas próprias teorias e não enxergam o que é essencial. Não é o caso de permitir toda espécie de manipulação pessoal, mas de que a liturgia tem significado em si mesma e se celebra a partir de dentro. Mas isso é algo que não se pode comandar." (Peter Seewald, Bento VI - O Último Testamento, Planeta, p. 239).

Por fim, Joachim Gnilka, respondendo a uma das perguntas da Entrevista (Jesus, o Cristo), em apêndice ao seu livro, sobre o fato de Jesus reunir em torno de si um grupo de discípulos, mas registrando que as autênticas reformas (e isso é pertinente aqui) fazem o caminho de retorno às fontes, afirma:

"De facto, as verdadeiras reformas na Igreja realizaram-se sempre como um regresso às origens. E a ideia de discipulado, de ser discente de Jesus, na minha  opinião,  é muito importante." (Jesus de Nazaré, Lisboa, Presença, p. 308)


Leia mais:

Papa Francisco: la riforma della da liturgia
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http://revista.olutador.org.br/formacao-liturgica-formar-para-que/

sábado, 15 de abril de 2017

Feliz e Santa Páscoa do Senhor!


Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. (Jo 11, 25)




Feliz e Santa Páscoa do Senhor !



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https://padrepauloricardo.org/episodios/aspirai-as-coisas-do-alto-pascoa-do-senhor

sábado, 25 de março de 2017

Presbitério: vitrine litúrgica para o povo e como reverenciar o Evangelho de Cristo proclamado



Numa clássica definição de A. Nosetti e C. Cibien (Dicionário de Liturgia, organizado por Domenico Sartore e Achille M. Triacca), presbitério é o:

Espaço em torno do altar reservado ao bispo e ao clero.

Para o Cerimonial dos Bispos, presbitério é "o espaço em que o Bispo, presbíteros e ministros exercem o seu ministério" (n. 50). Para a Instrução Geral do Missal Romano - IGMR (3ª edição típica), presbitério "é o lugar onde se encontra localizado o altar, onde é proclamada a Palavra de Deus, e nele o sacerdote, o diácono e os demais ministros exercem seu ministério." (n. 295)

As normas preveem que o presbitério deve distinguir-se do todo da igreja, ser suficientemente amplo e ter uma estrutura mais elevada, de modo que os atos ali realizados possam ser vistos e participados, presenciados e acompanhados por todos.

Para José de Leão Cordeiro "o presbitério é o lugar onde os presbíteros e todos os ministros litúrgicos (...) realizam o seu ministério", como se lê em seu "O Livro do Acólito".

Na igreja ou na catedral, como área "reservada ao corpo presbiteral e a outros ministérios envolvidos da direção e presidência das celebrações" (José Aldazábal), o presbitério é a vitrine de toda a assembleia reunida, cujos membros se espelham naqueles que estão no presbitério para absorção de gestos litúrgicos comuns uns aos outros.

Na verdade, a celebração requer, para a sua beleza, unidade de gestos e posições corporais. Por isso, a Instrução Geral do Missal Romano exalta o valor e a finalidade dos gestos e posições do corpo: 

42. Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo devem contribuir para que toda a celebração resplandeça pelo decoro e nobre simplicidade, se compreenda a verdadeira e plena significação de suas diversas partes e se favoreça a participação de todos. Deve-se, pois, atender às diretrizes desta Instrução Geral e da prática tradicional do Rito romano e a tudo que possa contribuir antes para o bem comum espiritual do povo de Deus, do que atender  ao seu próprio gosto ou arbítrio. A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é sinal da unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a sagrada Liturgia, pois exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos participantes. (negritos não são do original)

Das leituras bíblicas, o Evangelho é o ponto alto, assim o realça a referida Instrução Geral - IGMR:

60. A leitura do Evangelho constitui o ponto alto da liturgia da palavra. A própria Liturgia ensina que se lhe deve manifestar a maior veneração, uma vez que a cerca mais do que as outras, de honra especial, tanto por parte do ministro delegado para anunciá-la, que se prepara pela bênção ou oração; como por parte dos fiéis que pelas aclamações reconhecem e professam que o Cristo está presente e lhes fala, e que ouvem de pé a leitura; ou ainda pelos sinais de veneração prestados ao Evangeliário.

Com o canto de aleluia ou de aclamação antes da proclamação do Evangelho, todos ficam de pé, segundo dispõe a IGMR:

62. Após a leitura que antecede imediatamente o Evangelho, canta-se o Aleluia ou outro canto estabelecido pelas rubricas, conforme exigir o tempo litúrgico. Tal aclamação constitui um rito ou ação por si mesma, através do qual a assembleia dos fiéis acolhe o Senhor que lhe vai falar no Evangelho, saúda-o e professa sua fé pelo canto. É cantado por todos, de pé, primeiramente pelo grupo de cantores ou cantor, sendo repetido, se for o caso; o versículo, porém, é cantado pelo grupo de cantores ou cantor. (negritos não são do original)

De pé é a posição corporal e litúrgica para a escuta do Evangelho proclamado. 

A propósito, reproduzimos a imagem acima para ilustrar o que se diz por palavras. Os dois ministros de castiçais que ladeiam o ambão estão de pé, voltados para o ambão, e não para o corpo da assembleia reunida. A posição dos ministros litúrgicos situados à extrema esquerda da imagem acima é de pé, mas: "As mãos ficam juntas uma contra a outra à altura do peito" (Giuseppe Carlo Cassaro). Ou, como melhor explicita L. Trimeloni: "as palmas com os dedos unidos e estendidos tocam-se; mas o polegar direito deve sobrepor-se ao esquerdo em forma de cruz. Evitem os extremos de ter as mãos  completamente horizontais ou totalmente verticais; faça-se de modo que somente a ponta esteja ligeiramente afastada do peito."


Mais adiante a IGMR complementa:

133. [Sacerdote] Toma, então, o Evangeliário, se estiver no altar e, precedido dos ministros leigos, que podem levar o turíbulo e os castiçais, dirige-se para o ambão, conduzindo o Evangeliário um pouco elevado. Os presentes voltam-se para o ambão, manifestando uma especial reverência ao Evangelho de Cristo. (negritos não são do original)

A beleza da liturgia está na harmonia dos gestos e das posições do corpo,  que expressam a unidade e propiciam viva participação. E, para isso, concorrem, com bastante visibilidade, todos os que ocupam o presbitério, uma escola de liturgia.


Leia mais:



Fonte da imagem:
http://ars-the.blogspot.com.br/2014/03/de-que-lado-deve-ficar-o-ambao.html

sábado, 14 de janeiro de 2017

Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, simplesmente "amigo do povo"



Não há quem não tenha ouvido falar de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), esse grande Cardeal que durante anos esteve à frente da Arquidiocese de São Paulo. Grande em estatura moral, grande em impulsionar a Igreja para as periferias da vida, grande em enfrentar e solucionar desafios.

Idoso, já afastado de suas funções diretivas da Arquidiocese, o Arcebispo Emérito vivia recolhido na casa de repouso da Congregação das Franciscanas da Ação Pastoral, no Parque Monte Alegre, em Taboão da Serra, SP, cujas irmãs o acompanharam e dele cuidaram nos últimos anos.

Dom Paulo foi um profeta. A igreja "em saída", atitude missionária tão cara ao Papa Francisco (Evangelii Gaudium, n. 24, n. 46), já se fazia presente no conteúdo da ação pastoral de Dom Paulo, na Arquidiocese de São Paulo.

Simplesmente um franciscano. Ou, amigo do povo, como ele dizia, em entrevista ao jornal O São Paulo, de dezembro de 1997:
“Eu gostaria de ser lembrado como amigo do povo. Porque eu defendi os direitos humanos de todo o povo, sem olhar religião, sem olhar ideologia, sem olhar para as capacidades ou possibilidades das pessoas que eram perseguidas, mas sim para que todas elas tivesses seus direitos garantidos e a dignidade humana revelasse o amor divino." (disponível em: http://brasileiros.com.br/2016/12/quero-ser-lembrado-como-o-amigo-povo/ - Acesso em: 21/12/2016)

Para outros, o Cardeal do povo, o Defensor dos direitos humanos e tantas mais adjetivações que apontam para as qualidades de Dom Paulo; elas não se excluem, mas se somam. O homem de todos e para todos.

Foi o homem da esperança. O lema do seu brasão episcopal EX SPE IN SPEM, "De Esperança em esperança", é uma bússola a guiar a nossa caminhada, numa adesão madura a Cristo e a seu Evangelho. Viver a partir de Cristo, e não de ideologias ou coisas mais que não enobrecem a pessoa na sua dimensão espiritual, ética, ou seja, de pessoa feita à imagem e semelhança de Deus. Para tanto, não perder a esperança, mas dela fazer a força para, cada dia, a cada situação, continuar lançando-se à frente. Não fugir dos fatos, mas, na esperança, ter forças para continuar. É um abandonar-se nas mãos da Divina Providência.

Um homem de Deus, hoje vivendo nele e com ele. O novo e definitivo endereço de Dom Paulo é lá no céu. Na quarta semana do Advento, tempo de espera e preparação para o Natal, Deus chamou-o, para celebrar, daqui para frente, por séculos sem fim, o eterno Natal do Filho. 

Por fim, ao prefaciar Brasil: Nunca Mais, Dom Paulo Evaristo Arns deixou esta mensagem para o Brasil e para o mundo:

A imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única. Só ela pode salvar e preservar a imagem do Brasil e do mundo.


Leia mais:

Despedida franciscana às 10 horas desta sexta


Fonte da imagem:
http://www.revistamissoes.org.br/wp-content/uploads/maxresdefault2.jpg

domingo, 8 de janeiro de 2017

Diretório da Liturgia - 2017




O Diretório da Liturgia - Ano A - São Mateus (2016-2017) para a Igreja no Brasil já foi lançado pelas Edições CNBB, nas versões brochura (imagem acima) e espiral. E se encontra à venda nas livrarias católicas. 

Sobre a importância do Diretório da Liturgia e outras informações podem ser conferidas aqui

Esclareça-se que, no Brasil, o Tempo do Natal do Ano A - São Mateus vai até o dia 9 de janeiro de 2017, segunda-feira, inclusive. Este dia é dedicado à festa do Batismo do Senhor. A partir do dia imediatamente seguinte (10/01, terça-feira), começa o Tempo Comum (1ª fase).


Leia mais:

O ano litúrgico e o calendário


Fonte da imagem:
http://www.edicoescnbb.com.br/diretorio-da-liturgia-2017-brochura.html

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Papa Francisco: "orfandade espiritual"



No início do Ano Novo de 2017, o Papa Francisco toca numa das realidades mais profundas do ser humano. Umas das periferias existenciais do homem e da mulher nestes tempos de modernidade: o sentir-se só, privado da pertença a algo de grande valor que o motive a bem viver, sem referência afetiva. Sente-se sem pai, sem Deus; sem mãe, sem Maria; sem família, sem a Família de Nazaré; e, assim, por diante. Se só, isolado, seu horizonte de vida reduz-se a si mesmo, sem mais referências sociais e valorativas.

É uma orfandade de tal dimensão que atinge a alma humana, ou seja, alcança o humano naquilo que ele tem de mais íntimo. Há, nesse sentido, uma "orfandade espiritual" que vai para além dos fatos palpáveis.

 Nas sábias palavras do Papa Francisco:

Começar o ano lembrando a bondade de Deus no rosto materno de Maria, no rosto materno da Igreja, nos rostos das nossas mães, protege-nos daquela doença corrosiva que é a «orfandade espiritual»: a orfandade que a alma vive quando se sente sem mãe e lhe falta a ternura de Deus; a orfandade que vivemos quando se apaga em nós o sentido de pertença a uma família, a um povo, a uma terra, ao nosso Deus; a orfandade que se aninha no coração narcisista que sabe olhar só para si mesmo e para os seus interesses, e cresce quando esquecemos que a vida foi um dom – dela somos devedores a outros – e somos convidados a partilhá-la nesta casa comum.

A homilia, que foi proferida pelo Papa Francisco na Santa Missa da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, no dia 1º de janeiro de 2017, pode ser lida, em português, aqui.


Fonte da imagem:
http://www.icatolica.com/2014/01/solenidade-de-santa-maria-mae-de-deus.html