quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A família tem uma carta de cidadania divina, afirma Papa Francisco



No Encontro Mundial das Famílias - 2015, em Filadélfia (Estados Unidos da América do Norte), o Papa Francisco, deixando de lado o texto oficial, fez, de forma espontânea, o discurso que abaixo reproduzo:

“Queridos irmãos e irmãs, queridas famílias A beleza nos leva a Deus. Um testemunho verdadeiro nos leva a Deus. Porque Deus também é verdade. Beleza e Verdade. E um testemunho dado para servir é bom, nos faz bons, porque Deus é bondade. Todos os bons, todos os verdadeiros, toda a beleza nos levam a Deus, porque Deus é bom, é belo, é verdade. Obrigado a todos, a todos que deram testemunho, e a presença de vocês que também é um testemunho de que vale a pena a vida em família. De que uma sociedade cresce forte, cresce boa, cresce sólida se se edifica na família. 

Uma vez, uma criança me perguntou. Sabem, crianças fazem perguntas difíceis. Padre, o que Deus fazia antes de criar o mundo? 

Lhes asseguro que me custou muito responder. E disse o que vou dizer agora: antes de criar o mundo, Deus amava, porque Deus é amor. 

Era tal o amor, do Pai, Filho e Espírito Santo que transbordava, não sei se e muito teológico, era tão grande que não poderia ser egoísta, tinha que sair de si mesmo. Para compartilhar o amor quem ele amava, e então Ele criou esse mundo lindo em que vivemos. E, por estarmos um pouco confusos, o estamos destruindo. Mas o mais lindo que Deus fez foi a família. 

Criou o homem e a mulher, e lhes entregou tudo. O mundo. Cresçam, multipliquem-se, cultivem a terra, façam produzir, crescer, com todo o amor que fez a Criação, entregou a uma família. Todo o amor, a beleza e entrega a família... quando essa abre os braços e recebe. 

Não existe paraíso na terra. Existem problemas, porque por astúcia do diabo os homens aprenderam a se dividir. Todo esse amor que Deus nos deu, foi quase perdido. Em pouco tempo, o primeiro crime, o primeiro fratricídio. Um irmão mata outro irmão. A guerra, o amor, a beleza e a verdade de Deus e a destruição da guerra, e entre essas duas posições, caminhamos hoje. 

Cabe a nós escolher, decidir o caminho que queremos seguir. Vamos para trás...quando o homem e sua mulher se equivocaram, Deus não os abandonou. É muito grande o amor de Deus, que começou então a caminhar com seu povo até que chegou o momento justo e deu a maior expressão de seu Amor, seu Filho: e para onde mandou seu Filho? A um palácio, uma empresa... não, mandou-O a uma família. 

Pôde fazer isso porque era uma família que tinha o amor aberto ao coração, as portas abertas. Pensemos em Maria, não poderia acreditar. Como isso pode acontecer? Quando explicaram, ela obedeceu. Pensemos em José, cheio de planos e, de repente, se encontra nessa situação que não entende, mas aceita. E em obediência, de amor de Maria e José, se dá uma família em que Deus vem. Deus sempre bate às portas dos corações. Ele gosta de fazer isso. Ele sai de dentro. Mas sabe o que mais gosta? Bater às portas das famílias, encontrar famílias que se amam, que fazem crescer seus filhos, que os levam adiante, que criam uma sociedade de bondade, de verdade e de beleza. 

Estamos na festa da família. A família tem cidadania divina. A carta de identidade que elas têm foi dada por Deus para que no coração da famílias cresçam a bondade, verdade e beleza. 

Alguns podem dizer. Padre, você fala isso porque é solteiro. A família tem dificuldade. Em família discutimos. A família, às vezes quebra pratos. Nas famílias, os filhos dão dor de cabeça, não falemos das sogras. 

Mas, nas famílias, sempre há cruz. Porque o amor de Deus, do Filho de Deus, também nos abriu esse caminho. Mas nas famílias depois da cruz há ressurreição, porque o Filho de Deus nos abriu esse caminho. Por isso a família é uma fábrica de esperança, de esperança e ressurreição. Deus abriu este caminho e os filhos, dão trabalho, sim. Nós como filhos demos trabalho. Às vezes, em casa, vejo alguns de meus colaboradores que vêm trabalhar com olheiras, que têm um bebe de 1 mês, 2 meses...e pergunto: não dormiste? - Não pude porque eles não dormiram a noite toda. Na família há dificuldades. Mas essas dificuldades se superam com amor. O ódio não supera nenhuma dificuldade.

A divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade. Somente o amor é capaz de superar. O amor é festa. O amor é alegria. O amor é seguir em frente. Não quero falar muito porque já é tarde, mas queria dizer de dois pontos sobre as famílias. 

Queria que se tivesse... não só queria, mas temos que ter cuidado: das crianças e dos avós. 

As crianças e os jovens são a força, são aqueles nos quais colocamos as esperanças. Os avós são a memória das famílias. São os que nos deram a fé, nos transmitiram a fé. Cuidar dos avós e das crianças é a mostra do amor, não sei se maior, mas mais promissor da família, porque promete o futuro. Um povo que não sabe cuidar das crianças e um povo que não sabe cuidar dos avós é um povo sem futuro. Porque não tem a força e não tem a memória que o leva adiante. 

A família é beleza, mas tem problemas. Às vezes há inimizades. Maridos que brigam com as mulheres, os filhos que não se entendem com os pais. Lhes sugiro um conselho: nunca terminem um dia sem fazer as pazes. Em uma família não se pode terminar o dia em guerra. Que Deus os abençoe. Que Deus lhes dê a força que lhes anime a seguir adiante. Cuidemos a família, defendamos a família, porque aí está em jogo o nosso futuro. Rezem por mim”.

O fato de a família ter uma carta de cidadania divina coloca-a em situação privilegiada. Não é a lei dos homens que a cria, competindo, sim, a lei humana reconhecê-la. Ela antecede à lei dos homens. E isso é muito importante!


Fonte do texto: 
http://br.radiovaticana.va/news/2015/09/27/papa_na_festa_das_fam%C3%ADlias_%E2%80%9Ca_fam%C3%ADlia_tem_cidadania_divina%E2%80%9D/1175036

Fonte da imagem:
http://www.acidigital.com/noticias/apresentado-no-vaticano-o-encontro-mundial-das-familias-filadelfia-2015-53220/

domingo, 13 de setembro de 2015

Misericórdia - O agir do Pai: o agir dos filhos

A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós.
 (Papa Francisco)




Misericórdia é categoria bíblica muito realçada pelo Papa Francisco, própria do Deus da Bíblia, cuja visibilidade encarnada foi expressada nestes precisos termos na abertura da Bula Misericordiae Vultus - O rosto da misericórdia:
Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.
A misericórdia é tão importante, norte do viver cristão, que mereceu ser objeto de um ano de graça, porque, como diz o Papa:
Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai (Misericordiae Vultus, n. 3)
Nessa linha de conscientização e ação, Francisco proclamou um Jubileu Extraordinário da Misericórdia. É um Ano Santo, que começa no dia 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, e termina no dia 20 de dezembro de 2016, solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo.

A misericórdia dá concretude ao amor e ela constitui o modo do agir de Deus para conosco, como dá contas o Papa Francisco:
Na Sagrada Escritura, como se vê [refere-se, entre outras expressões da misericórdia divina, a parábolas ricas em misericórdia extraídos de Lucas e Mateus], a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros. (Misericordiae Vultus, n. 9).
Por tudo isso,
É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e das dificuldades dos nossos irmãos. (Misericordiae Vultus, n. 10)
Para enriquecer o tema, tomo a liberdade de reproduzir as palavras de Luís Alonso Schökel, SJ (1920-1998), sobre a misericórdia, extraídas do Vocabulário de Notas Temáticas que acompanha a Bíblia do Peregrino:
Misericórdia. A misericórdia divina é a qualidade quase predominante de Deus com relação ao homem; inclui os aspectos de compaixão, ternura, clemência, piedade, paciência, tolerância. A rigor, todo benefício de Deus ao homem tem caráter de misericórdia, pois não se baseia em direitos ou méritos humanos. Entra na definição de Deus (Ex 34,6; Sl 86,15; 103,8). Sua extensão é universal (Jonas); sua duração, eterna (Sl 136, com estribilho comum na liturgia). Motiva a prece e funda a confiança. Adia o castigo, mitiga-o e até mesmo o suspende, e triunfa libertando o necessitado. A misericórdia é o arco extremo que abrange todas as etapas históricas e estabelece a última: porque a misericórdia de Deus torna a conversão possível e a transformação do homem real. O homem deve ser misericordioso com seu próximo (Pr 3,27; 20,28; Eclo 40,17; Sb 12,19). NT: a) Jesus dá mostras constantes de misericórdia em sentimento e em obras: à multidão (Mc 6,34), aos doentes (Mt 14,14), à viúva (Lc 7,13); preocupa-se, compadece-se (Hb 4,15); assim se revela o perfil de seu Pai. b) Deus é rico em misericórdia (Ef 2,4, Cf. Ex 34,6), pela qual nos salva (Tt 3,5), nos regenera (1Pd 1,3); na parábola do filho pródigo (Lc 15,20), com os pagãos (Rm 15,9), o leva como título (2Cor 1,3); pelo que o homem deve imitá-lo (Lc 6,36). c) O cristão: tem uma bem-aventurança (Mt 5,7), o bom samaritano ((Lc 10,33), o mau administrador (Mt 18,33); sentimentos (Cl 3,12); vale mais que o sacrifício (Mt 9,13) e que as observâncias (Mt 23,23).
O Salmo 136 (135) a que recorre a Misericordiae Vultus (n. 7) não se cansa de reiterar a cada versículo essa qualidade que entra na definição de Deus (Luís Alonso Schökel), porque é eterna sua misericórdia.
Neste Jubileu, deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. (Misericordiae Vultus, n. 25).
Não se pode deixar de mencionar que a misericórdia divina foi muito cara a João Paulo II, que dedicou a ela a Carta Encíclica Dives in Misericordia sobre a Misericórdia Divina, onde o Papa diz: 
O amor misericordioso, é sobretudo indispensável entre aqueles que estão mais próximos: os cônjuges, os pais e os filhos e os amigos; e é de igual modo indispensável na educação e na pastoral. (Dives in Misericordia, n. 14.)
O Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização, responsável pela organização do evento, criou uma página oficial na internet sobre o Jubileu da Misericórdia, que pode ser acessada: http://www.iubilaeummisericordiae.va/content/gdm/pt.html

E há também o Jubileu da Misericórdia no Facebook:
https://www.facebook.com/IubilaeumMisericordiae.pt


Leia mais:

O Brasão do Papa Francisco

Significado do Jubileu da Misericórdia, por Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho


Fonte da imagem:
http://www.iubilaeummisericordiae.va/content/gdm/pt/giubileo/logo.html