domingo, 23 de setembro de 2007

Septuaginta: Escrituras Hebraicas em grego coiné


A tradução da Torá (= Pentateuco) para a língua grega, no dialeto coiné, ficou conhecida pela palavra latina Septuaginta, que significa Setenta, ou, em algarismo romano, LXX. Por extensão, Septuaginta é, em seu conjunto, uma coleção de todos os livros das Escrituras Hebraicas (= Antiga Aliança) traduzidos do hebraico para o grego.

A tradução foi feita em Alexandria, onde vivia forte comunidade hebraica, entre meados do século III e século I antes de Cristo e objetivava ao desejo dos judeus de fala grega, que viviam na diáspora egípcia, de ler e entender as Escrituras Sagradas no grego do dia-a-dia, que era o dialeto coiné.

Coiné (koiné) era a língua comum, popular, falada no período do helenismo, cultura esta propagada em razão das conquistas de Alexandre, o Grande, e que acabaram influenciando na divulgação da cultura grega na região mediterrânea.

A versão da Torá, da língua hebraica para a grega, apareceu, em Alexandria, pela metade do século III antes de Cristo. Foi a primeira tradução, e as demais traduções dos outros livros das Escrituras Hebraicas vieram depois, em espaço de tempo mais longo, encerrando-se no I século antes de Cristo.

Segundo diz a Carta de Aristeas a Filócrates, ou Carta de Aristéias a Filócrates (meados do II século antes de Cristo), a tradução esteve a cargo de anciãos, expertos na Lei (Torá), sendo seis de cada tribo de Israel, perfazendo o total de setenta e dois tradutores (6 x 12). E mais: a tradução foi concluída ao cabo de setenta e dois dias.

A isso se juntou posteriormente a lenda de que aqueles anciãos trabalharam separada e independentemente, e que, ao final dos setenta e dois dias, compararam seus trabalhos: as setenta e duas traduções gregas coincidiram perfeitamente palavra por palavra. Essa lenda queria ensinar que as traduções (gregas) haviam sido realizadas sob a inspiração divina (Deus) e que nelas devia se reconhecer a mesma autoridade das Escrituras originais hebraicas.

Setenta é um número simbólico. No contexto bíblico = todos os povos. Nesse sentido, a tradução grega do Antiga Aliança "é indicada como a abertura da fé de Israel para os povos". [1]

Em homenagem aos setenta e dois anciãos, essa tradução da Lei, do hebraico para o grego, passou a chamar-se Versão dos Septuaginta, ou simplesmente Septuaginta (Setenta), ou ainda, em algarismo romano, LXX.

Diga-se ainda que a Carta de Aristéia a Filócrates é uma apologia da referida versão grega.

As Escrituras Hebraicas traduzidas para o grego acolheram a palavra leitourgía (liturgia) para indicar o serviço de culto ao Deus de Israel (Javé) confiado a tribo de Levi (levitas). Na primeira fase, realizado no deserto (tenda) e, depois, no Templo em Jerusalém.

A palavra leitourgía assume, então, um sentido restrito, técnico, para designar o culto público e oficial realizado pelos sacerdotes e levitas no Templo. Em contrapartida, a mesma Septuaginta usou as palavras também gregas latreía (latria) e douleía (dulia) para o culto privado.


[1] cf. Joseph Ratzinger - Bento XVI, Jesus de Nazaré, tradução de José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo, Editora Planeta do Brasil Ltda., 2007, pp. 161-162.

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Fonte da primeira imagem:
http://www.freewebs.com/camiloezagui/tora.jpg

Fonte da segunda imagem:
http://torah.foroportal.es/viewtopic.php?t=9


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